domingo, 17 de abril de 2011

BOLA DE GUDE















Revisito a manhã
alva manhã
como nos tempos de menino -
pés descalços molhados da relva
e a luz - tanta luz
refletindo diagonalmente
como um prisma
a tua imagem distante:
os teus lábios de mel proibidos
            os teus olhos eternamente fugindo dos meus
            as tuas mãos sempre dizendo adeus

Ao revisitar menino, aquela distante manhã
encontro a lúdica bolinha de gude multicor
cigano, eu a transformo numa miniatura
de bola de cristal da bola de cristal
da cigana do circo
em seu cerne, vislumbro os dias ulteriores
a essa distante manhã, da maneira que desejo:
            olha lá você, mulher, esguia, elegante
            absoluta, radiante, iluminada, colorida,
            linda, dona do meu futuro

Volto da manhã
alva manhã
como nos tempos de adulto -
pés calçados de tanta incerteza
e a luz - tanta luz
brilha em meus olhos ainda menino
neles a tua imagem bem mais real
da que imaginei lá no distante

À minha chegada, procuro atônito
no fundo do baú da infância
a minha lúdica bolinha de gude multicor
necessito saber se ainda tenho o dom
de ver nas suas veias os dias ulteriores
a esse futuro presente
onde espero ver-te ao meu lado -
nós dois eternamente meninos.

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