domingo, 3 de abril de 2011

Saudades de Baden Powell

Autógrafo no LP L`LÂme de Baden Powell em 1.979
Estava eu neste domingo chuvoso navegando na internet quando vi que Riso Maria Dersu, uma amiga do Facebook, adicionou um vídeo do João Gilberto cantando Estate. Curti o João e como uma coisa puxa a outra, vi na barra de rolagem do Youtube à direita diversos vídeos de Baden Powell.

Não resisti e cliquei em Tristeza, um vídeo de 1966 quando o jovem violonista estava no auge de sua forma. O vídeo é uma preciosidade. Acompanhado por um trio, Baden arrasa no improviso e faz uma releitura deste clássico – uma música relativamente simples – transformando-o num concerto espetacular.

Imediatamente, minhas lembranças saltaram para uma noite muito especial que aconteceu no Tuca em 1973, ano em que cheguei em São Paulo. Eu estava lá e tive o privilégio de assistir àquela noite memorável em que Baden Powell se juntou aos seus mestres Dino e Meira e a cantora Silvia Maria. Saí daquele show mais encantado ainda com o violonista que eu conhecia apenas da vitrola. Ah, saí também com um autógrafo do ídolo no método de violão Lições Preparatórias, de A. Bernardini, em que eu estudava na época. O autógrafo diz: “Ao Dirceu com apreço, um abraço de Baden Powell e Silvia Maria, 21/11/73”. Lembro-me de Baden dizendo: “mas estuda mesmo”.

A partir, daí comecei a comprar todos os vinis de Baden que chegavam ao nosso mercado, porque a maioria dos seus álbuns foi gravada na Europa, onde viveu por mais de 20 anos. Ainda guardo comigo e ouço, de vez em quando, os 12 LPs gravados entre Alemanha e Paris. Um, em especial, ouço sempre: o LP gravado ao vivo, em 1979, no Teatro Procópio Ferreira, na Rua Augusta.

Quando anunciaram a temporada, corri ao teatro e comprei o ingresso para a estreia, na primeira fila. Nesta época eu acabara de lançar o meu livro de poesia Canto em Si e levei um exemplar “autografado” para Baden no camarim após o show. Contei então que a edição era minha e que eu estava vendendo em tudo quanto é espaço na cidade. Para minha surpresa, ele falou: “pode vender aqui no meu show”. Foi o máximo. Durante toda a temporada fui autorizado pela produção a vender o meu peixe na entrada do teatro. De quebra, assisti a temporada inteira... De graça.

Tenho uma história curiosa para contar sobre este show. Muito tempo depois, conheci Lilian Carmona, a baterista daquele show. Conversamos a noite inteira sobre aquela temporada histórica. Contei para ela o que narrei acima e, de repente, ela me contou o que aconteceu nos bastidores. Contrataram o trio: baixo, bateria e percussão. Os músicos chegavam para o ensaio às 11 da manhã e ficavam esperando alguma coisa acontecer. Lá pela uma da tarde, iam almoçar, voltavam... E nada. Baden se trancava no camarim e tocava sozinho o tempo todo.

Assim foi durante uma semana. Os músicos chegavam, almoçavam e ficavam esperando Baden descer para o ensaio. Somente no dia da estreia, com o palco montado, Baden chama todos para ensaio... No camarim. Foi assim mesmo, disse-me Lilian. Os músicos levaram seus instrumentos para o camarim, ensaiaram apenas uma vez com Baden e estrearam à noite... Comigo na primeira fila. Vá entender a cabeça dos gênios.

Depois deste show ainda vi Baden mais três vezes: no Circo SP, que funcionou durante alguns anos lá na Augusta com a Caio Prado; no 150 Night  Club, no Maksoud Plaza; e o último show, num teatro, que não lembro o nome na Rua do Paraíso, alguns meses antes da morte do violonista.

Para quem quiser ver o Canto de Ossanha com que Baden abriu o show do Procópio Ferreira, deixo o link do Youtube. É uma gravação que Baden fez para o Fantástico em 1979: http://www.youtube.com/watch?v=WVQ3Hg9d19M&feature=related 

2 comentários:

  1. Que linda inspiração para um domingo de chuva em Sampa.http://risomariadersu.blogspot.com espreita lá Dirceu.

    beijos,

    Riso Maria Dersu

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  2. OI Riso,
    Que susto você me deu. Li o Obra de Merda e achei que você estava falando a obra do Baden. Aívi que é o teu blog. Ótimo, vou segui-lo também. Beijos Dirceu

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