Em 1997 fui passar uma semana em numa pousada em Trancoso, na Bahia. Levei comigo um livro que acabara de ganhar: Um Homem Iluminado, biografia de Tom Jobim escrita pela irmã Helena. Li em dois dias, pois não conseguia parar. Vez ou outra me emocionava com alguma passagem e retornava ao início do parágrafo para que ela ficasse cravada em minha memória e o tempo não a apagasse.
Helena Jobim contou muitas histórias que se passaram no sítio Poço Fundo, em São José do Vale do Rio Preto, onde Tom se refugiava para curtir a natureza exuberante e compor muitas pérolas de seu repertório. Lá nasceram, entre outras, Águas de Março, Matita Perê e Dindi. Esta última, a montanha que Tom vislumbrava de seu sítio e para a qual o compositor cantou uma das suas mais belas canções: Se um dia você for embora me leva contigo, Dindí.
Hoje li no site do Estadão, que o Poço Fundo é mais uma das vítimas das águas de janeiro que caem furiosas na serra fluminense. O refúgio do maestro desapareceu em duas horas. O jornal falou com o neto Daniel que chegou a ver a casa do avô cair. Daniel disse também que as músicas do avô soam como "proféticas”. Jobim foi um dos pioneiros a falar sobre o perigo do desmatamento e sobre a preservação da natureza. Cantou o urubu, o matita perê, o boto e o Passarim que “quis pousar não deu voou, porque o tiro partiu e não pegou”.
Ao final da matéria Daniel fala que depois da destruição do Poço Fundo pelas enxurradas de janeiro, Águas de Março, composta lá, soa agora como uma previsão: "É pau, é pedra, é o fim do caminho / É um resto de toco/ é um pouco sozinho."
Na sexta-feira, o Diário de São Paulo abriu duas páginas com imagens lado a lado de uma enchente na Alemanha e da destruição de Teresópolis. Em Colônia, o rio Reno subiu, mas os alemães se precaveram com barreiras que impedem que alguém seja levado pela enxurrada.
Aqui no Brasil, a única providência que as autoridades tomam é o resgate das vítimas da tragédia anunciada a cada verão chuvoso. Já está na hora de os nossos governantes começarem a tomar providência tão logo as águas de março fechem o verão. Assim, em 2012, a gente não volte a contabilizar corpos de brasileiros esquecidos nos morros devastados pela falta de planejamento habitacional e ambiental.
Aqui no Brasil, a única providência que as autoridades tomam é o resgate das vítimas da tragédia anunciada a cada verão chuvoso. Já está na hora de os nossos governantes começarem a tomar providência tão logo as águas de março fechem o verão. Assim, em 2012, a gente não volte a contabilizar corpos de brasileiros esquecidos nos morros devastados pela falta de planejamento habitacional e ambiental.
É isso aí Dirceu...também fiquei chocada quando li que a casa do Tom havia ido com as chuvas de janeiro...Muito triste...
ResponderExcluirEntrei em casa comentando com o Fer, minutos depois li sua cronica primeiro com os olhos, depois li alto para o Fer...que tristeza..parodiando o grande Adoniram " que tristeza que nóis sentia, cada tauba que caia doia no coração..."
bacci
Em 06/10/2008, estive em São José do Vale do Rio Preto e fotografei um imóvel que minha amiga estava vendendo, inclusive tenho estas fotos em meu computador. Confesso que na época fiquei impressionada com as ruas que eram ladeiras muito íngremes.Senti até um certo medo, mas ao chegar no lugar que era muito alto, a vista era maravilhosa. Compensava a escalada. É uma pena ter acabado tudo aquilo.Precisamos cuidar assim como respeitar a natureza que só depois de tamanha destruição prestamos atenção.
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