sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ê morena quem temperou...

...Cigana quem temperou o cheiro do cravo... e a comida mineira. Ê trem bão!

A nossa viagem foi temperada pela deliciosa culinária das Gerais e a música Cravo e Canela, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos – o segundo tema da nossa trilha sonora on the road. Era a sexta faixa do CD e toda vez que chegava no ponto, aumentávamos o volume e soltávamos a voz na estrada com Milton Nascimento. Invariavelmente, repetíamos a faixa duas, três vezes.

A mesa do café da manhã na Pousada Magnólia, em São João Del-Rei, estava uma beleza: pão de queijo quentinho, cereais, queijo minas de Minas, bolos fofos de fubá e laranja, frutas e sucos frescos e saborosos. Deixamos a mesa às 10 e pegamos a estrada. Próxima parada: Congonhas.

No caminho passamos por Lagoa Dourada, Entre Rios de Minas e São Brás do Suaçaí. Achei o nome desta última cidade um tanto esquisito. Então, minha curiosidade me levou até o site oficial da cidade e descobri que São Brás do Suaçuí tem 3.278 habitantes e o amor à música é o traço marcante de sua pequena população. A cidade é conhecida na região pelo grande talento e vocação do seu povo para a música, tradição que é mantida pela banda União Musical Santa Cecília e a Escola de Música de São Brás do Suaçuí. Na próxima vez que estiver por aquelas bandas terei que fazer um pit stop nesta cidade musical no caminho do ouro.

Chegamos a Congonhas por volta do meio-dia. Pouco vimos da cidade, pois nos concentramos no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos construído em várias etapas, nos séculos XVIII e XIX, por vários mestres, artesãos e pintores, entre eles Aleijadinho e Manuel da Costa Ataíde. Lá estão os 12 profetas que conhecia de fotos. Vê-los de perto foi uma só emoção. Pena que não deu para fotografar a igreja em todo o seu conjunto, pois em uma tenda à direita especialistas tiravam o molde em gesso de um dos profetas. Eles serão reproduzidos com destino a um museu. Incrível saber que os profetas estão lá há três séculos testemunhando as muitas histórias que o Brasil viveu desde sua criação por Aleijadinho.

Almoçamos num restaurante indicado pelo posto turístico logo na entrada da cidade. Foi o único senão gastronômico da viagem. A refeição não foi tão boa como as que faríamos nos dias seguintes. Quando saímos foi que percebemos que logo em frente havia um mais charmoso e, com certeza, com uma culinária bem melhor da que havíamos terminado de degustar.

Lá pelas duas da tarde retornamos à Estrada Real rumo a Ouro Preto. Antes cruzamos Ouro Branco, que não tem nada a ver com a primeira, onde abastecemos o carro e prosseguimos até a Pousada Sinhá Olympia. Mais tarde saberíamos que entre os anos 50 e 70 Dona Olympia ou Sinhá Olympia circulava pelas ladeiras da cidade com suas roupas coloridas, chapéu florido, cajado na mão e um cigarro na boca; e também que foi retratada por fotógrafos e pintores; serviu de inspiração para músicos; e até foi tema de desfile da Mangueira, em 1990. Toninho Horta e Ronaldo Bastos compuseram a bela Dona Olímpia “Vai e não esquece de chorar. Vê se não esquece de mentir. Dizer até manhã e não regressar mais...”

Depois de digirir por 500 quilômetros por uma estrada linda, porém com mão dupla, nada com deixar o carro na garagem do hotel e caminhar. A Pousada Sinhá Olympia tem um serviço maravilhoso. Um funcionário da recepção deixa os hóspedes no centro da cidade e depois a gente volta de táxi. Perfeito, porque dirigir por aquelas ladeiras com aquela chuva é uma missão quase impossível, além do incoveniente de ter que estacionar naquelas ruazinhas estreitas.

Antes de sair, tomamos o delicioso chá da tarde – como o café da manhã – incluído no pacote da hospedagem. Todos os hotéis deveriam se espelhar neste serviço. É claro que está embutido no preço da diária, mas para os hóspedes soa como um serviço cortesia e o chá com bolos e rosquinhas fica muito mais saboroso.

Bem, quanto ao quando chegamos ao centro da cidade... fica para o post de amanhã, senão este ficará muito extenso. Mas não posso deixar de comentar um e-mail que recebi hoje sobre a primeira parte desta nossa aventura minheira. Em seu PS: meu leitor disse “agora quero ler "Brasil: uma História – Cinco séculos de um país em construção". Que delícia saber que o blog incentivou a leitura deste belo livro. Será que o Eduardo Bueno também leu?

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