terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Um 25 de janeiro para Jobim & São Paulo

Hoje é o aniversário de 457 anos de São Paulo e também a dada de nascimento de Tom Jobim, que faria 84 anos. Não deu outra. Botei uma seleção de Tom na vitrola. Isso mesmo, na vitrola. Eu, felizmente, guardo os meus vinis e minha coleção Jobimniana está quase completa. Comecei com Stone Flower, passei por Urubu, Terra Brasilis e Matita Perê.

Almocei ao som do maestro soberano de Chico. Ao mesmo tempo, dei um search na internet e li um monte de coisas sobre Tom. Fui das entrevistas às frases e textos. Um texto me chamou a atenção e me reporto ao post deste blog no dia 16 de janeiro: Ai, Dindi, por que você foi embora? (http://dirceurodrigues.blogspot.com/2011/01/ai-dindi-por-que-voce-foi-embora.html). Lá eu falava da destruição do sítio Poço Fundo pelas águas de janeiro.

Neste texto do site oficial de Tom, o maestro também fala de seu refúgio na serra fluminense: “Várias canções foram feitas lá em Poço Fundo, como a "Estrada do sol", que posteriormente ganhou uma letra de Dolores Duran. Todas essas canções e sambas foram feitas sem o piano, porque eu não tinha piano lá. Naquele tempo não tinha nem luz elétrica. Foi tudo composto no violão.

Eu morava numa casa na beira do caminho, uma casinha precária, e estava construindo uma maior, no alto do morro. A casa tem que ser feita num lugar alto, arejado, em soleira. Comprei o terreno baratinho, construí uma casa boa, custou 120 tupiniquins, um negócio baratíssimo, uma casa ótima, colonial, telhado com aquelas telhas velhas e aquelas vigas de madeira de lei que eu encontrei num desmonte. No estado do Rio, tem muita fazenda que foi desmontada e ficaram aquelas madeiras que não existem mais nas florestas daqui: maçaranduba, roxinho, peroba-do-campo e tudo o mais. Aquilo tudo ficou exposto ao tempo, jogado fora.

Aquilo vem do tempo da escravatura. Depois que acabou o café, acabou tudo, aquelas madeiras foram usadas como lenha. Aquelas vigas imensas ficaram ali deitadas ao relento. Eu comprei aquilo a preço de banana, mandava o caminhão lá, pegava aquelas vigas, e contruí a casa com aquelas madeiras de lei que a gente morre, os filhos morrem, os netos morrem e aquela madeira fica lá. O bicho não consegue comer. É uma madeira fortíssima.

Aqui em casa, por exemplo, deu cupim, mas ipê não é comestível, não dá para morder. "Águas de março" nasceu assim. Foi feita em março, quase à entrada do outono. "E a terra ressequida bebera longamente a água da estação. E Fernão Dias entrou pelo sertão". Isso foi o Olavo Bilac que contou. É uma tradução poética. Depois, o americano me disse que as águas de março são as águas do degelo, quando os rios ficam parados, então aqueles rios começam a andar, e andam carregando aquelas pedras imensas de gelo. Aqueles rios do norte dos Estados Unidos, do Canadá. Essas são as águas de março para eles. Eu não pensei nisso, não fiz para isso.”

Vejam que Tom foi o pioneiro a falar sobre o meio ambiente. Desde sempre o tema esteve presentes nas entrevistas, nos textos e, sobretudo, em seu modo de vida e nas consequentes canções que nos legou.

Tom Jobim e São Paulo fazem aniversário neste dia 25 de janeiro. Ambos são duas paixões da minha vida. São Paulo – a minha realidade – é o local onde um dia sonhei viver e vivo desde 1973. Apesar dos tantos pesadelos e sobressaltos que a cidade me impõe cotidianamente, eu continuo vivendo por aqui. Confesso que toda vez que o fantasma da partida me ronda eu me pergunto: mas partir para onde? Por que deixar a cidade? São Paulo, você é o meu vício e não há remédio que me cure de você. Não dá para imaginar viver num outro lugar, assim como não dá deixar de ouvir as músicas que seu parceiro de aniversário fez para embalar todos os meus sonhos.

Um comentário:

  1. Olá Dirceu, meu nome é Wagner Pressi e eu ajudo a editar um jornal em Guarulhos, o Notícia Paulistana. Na edição nº 61, sairá uma matéria falando sobre a homenagem que Tom Jobimn receberá no Grammy 2012. Gostaria de saber se posso utilizar essa foto do Tom, que ilustra seu blog, no jornal?
    Se puder, devo dar o crédito a quem?
    Desde já, agradeço pela gentileza e ajuda.
    Meu email é: wagner@atelierdecomunicacao.net

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