sábado, 8 de janeiro de 2011

Para quem quer se soltar...

O clic de Cláudia para o "Pirulito que bate bate... "
...invento o cais, invento mais que a solidão me dá...

Como disse ontem, chegamos ao centro de Ouro Preto no final da tarde do dia 28 e, também como disse, o CD Clube de Esquina foi a trilha da nossa viagem. Então, Cais, de Milton e Ronaldo Bastos, também nos embalou na Estrada Real no caminho do ouro, sobretudo o tema instrumental ao final da música com o solo ao piano de Wagner Tiso. Este mesmo tema foi suntuosamente orquestrado por Elmir Deodato no final de Um gosto de sol, também da dupla.

A chuva apertou e ficamos pouco. O tempo suficiente para fazer o reconhecimento do terreno no entorno da Praça Tiradentes e escolher o Bené da Flauta, restaurante onde voltaríamos para o jantar às 9 da noite na companhia do DJ Paulo Sakae Tahira, sua mulher Cris e seu filho Benjamin. Nós os conhecemos assim que voltamos para a Sinhá Olympia. Numa das confortáveis salas da pousada havia revistas, livros de arte... e um violão. Não resisti. Afinei-o e fui para a varanda em frente à piscina. Cláudia e eu desfiávamos nosso repertório quando Paulão, Cris e o pequeno Benjamin se aproximaram.

A música foi o primeiro elemento de aproximação dos casais, mas descobriríamos outras afinidades. De pronto, combinamos jantar lá no Bené da Flauta. Como este mundo é mesmo uma pequena aldeia, descobri que Cris trabalhou na fase de instalação do Museu da Língua Portuguesa, onde hoje trabalho. Ou seja, ela conhece um monte de gente que eu conheço.

A pasta do Bené estava espetacular e o vinho nem falar. Duas garrafas de tinto embalaram os nossos papos noiteadentro. Saímos do restaurante quase meia-noite com um chuvão danado, que prosseguiu até a manhã do dia seguinte, quando partimos para um bate e volta em Mariana.

A chuva ia e vinha, o sol aparecia e sumia. Nosso passeio em Mariana aconteceu neste clima. Ficamos na cidade durante quatro horas, o bastante para percorrer as ruas e conhecer as igrejas. Na de São Pedro dos Clérigos, localizada no alto da Colina de São Pedro, subimos até o sino de onde se avista toda a cidade. Ela é uma das três igrejas barrocas de Minas com plano em redondo, característica revolucionária para a época em que foi construída, em 1752.

Almoçamos no simpático Lua Cheia, restaurante instalado em um casarão do século XIX com grande variedade em saladas e pratos quentes, culinária típica mineira. Depois da sobremesa voltamos para Ouro Preto, demos um novo giro pela cidade e voltamos para a Dona Olympia. Decidimos não sair para jantar. Pedimos uma pizza e enquanto comíamos fomos desafiados por dois hóspedes para uma partida de buraco. Fechado. A nossa dupla ganhou, é claro. Ao final da partida chegaram Paulão, Cris e Benjamim. Abrimos uma garrafa e meia de tinto e trocamos mais histórias até a meia-noite.

No nosso último dia em Ouro Preto contratamos o Edmar, o simpático e falante-mais-que-papagaio guia turístico. A princípio ele se espantou por não fazermos o trajeto de carro. Dissemos que queríamos caminhar. Coitado. Acho que nunca andou tanto e com um casal super curioso que queria ver todos os detalhes e parar em tudo quanto é lugar. O passeio começou às onze da manhã e terminou às quatro da tarde. Edmar é doutor em Ouro Preto. Contou tudo e nos levou até uma mina do século XVIII. Embora um tanto claustrofóbica, Cláudia enfrentou valentemente os 160 metros disponíveis à visitação.

Eu não tenho este problema, mas confesso que lá no fundo, vez ou outra, meu pensamento me levava até os mineiros do Chile que ficaram naquela escuridão aqueles meses todos. Para me confortar, rapidamente eu recorria à poesia do Drummond falando sobre a sua Itabira do Mato Dentro: “eu também sou filho da mineração e tenho os olhos vacilantes quando saio da escura galeria para o dia claro.”

Deixamos Edmar na praça e fomos às compras das lembrancinhas. Para enfeitar a minha estante, trouxe uma namoradeira – um dos mimos mais típicos da região. Soubemos depois, em Bichinho, que ela é uma das criações do artista plástico Antonio Carlos Bech, o como Toti. Ele é de São Paulo, chegou ao lugarejo há 20 anos e transformou o lugar. Ensinou boa parte da população a trabalhar com o artesanato e montou a sua Oficina de Agosto. Mas esta história é para o post de amanhã, quando partiremos para Tiradentes, a cidade escolhida para o nosso Réveillon.

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