Deixamos Ouro Preto no dia 31 de manhã com chuva. Tiradentes seria a nossa última parada, o nosso Réveillon. Como fizemos durante toda a viagem, ligamos o GPS. Sem querer, Cláudia apertou um botão em que o aparelho sugere o caminho mais curto. E lá fomos nós seguindo a voz guia: a duzentos metros pegue a direita; siga em frente por cinco quilômetros; a quinhentos metros vire à esquerda. O caminho mais curto nos botou numa estradinha linda até um pequeno povoado... com Milton cantando outro clássico do Clube de Esquina: San Vicente, parceria de Bituca com Fernando Brant.
De repente a estrada e o lugarejo chegaram ao fim da linha e o GPS ficou sem sinal. Como vamos para Tiradentes? É só seguir em frente, mas a estrada não é muito boa, nos informou um morador. Quantos quilômetros? São 45. Bem, teoricamente, pelo GPS, ganharíamos alguns quilômetros. Vamos nessa. Só que a estradinha “não muito boa” não era só “não muito boa”. Era esburacada e de lama, acentuada pela chuva dos últimos dias.
Seguimos em frente sacolejando numa fantástica velocidade que variou entre 20/40 quilômetros por hora. No trajeto, cruzamos apenas com um motoqueiro praticando MotoCross – o local é ideal para este tipo de esporte – e alguns vaqueiros conduzindo o rebanho. Foram eles que nos informaram que ainda faltavam ainda 27 quilômetros para o final do tormento.
As horas não se contavam e o que era negro anoiteceu... Meia hora depois chegamos à “estrada mais longa” que o GPS não havia indicado – a mesma que nos levou a Ouro Preto. Saímos do barro para o asfalto e a placa indicava São João Del-Rei a 10 quilômetros em de lá, mais 15 até Tiradentes e à Villa Paolucci, uma linda fazenda colonial transformada em pousada.
Deixamos o carro na pousada e fomos a pé para a cidade... com o fiel guarda-chuva. Fizemos o primeiro giro com a chuva aumentando cada vez mais. Para nos localizarmos, passamos pelo Theatro da Villa, o restaurante que havíamos reservado com um mês de antecedência para a nossa ceia de Ano Novo. Estava fechado e somente às 9 da noite conheceríamos o belo espaço que oferece a seus clientes sugestões criativas como a perdiz recheada de vitela em redução de vinho do Porto com escalope de foie grás; filé mignon de javali ao molho de cacau e cogumelos silvestres; e o filé de linguado sobre ragu de lagostim e alcachofra ao molho de laranja.
Fomos os primeiros a chegar. Antes de escolher nossa mesa, um dos proprietários nos mostrou todos os detalhes: a decoração, a cozinha, o local de fumantes e, por fim, a nossa mesa. Abrimos um tinto e meia hora depois começaram a chegar os demais clientes. No Theatro da Villa passamos a nossa noite, com direito a ver, através da janela, os fogos que pipocavam lá na praça principal da cidade. Inesquecível esse lugar, que é parada obrigatória para quem visitar Tiradentes.
No dia 1 de janeiro de 2011 fomos para Bichinho. Achei curioso o nome do lugar. Nunca ouvira falar dele. Lá descobri que aquele distrito conhecido pelo nome de “Bichinho” foi fundado por Vitoriano Gonçalves Veloso, o único inconfidente negro que se tem notícia. Depois da chegada do artista plástico Antonio Carlos Bech, o Toti, há 20 anos, seus habitantes tornaram-se artesãos e se orgulham disso. A criatividade e simplicidade deles chamam a atenção dos visitantes. As peças e pinturas nascem do aproveitamento de material de demolição, madeira, ferro, lata, plásticos e tecidos de algodão. Bichinho fica a 7 km de Tiradentes. Lá almoçamos no Tempero da Beth, um dos restaurantes mais deliciosos da viagem.
Voltamos no final da tarde para a Villa Paolucci exaustos. Saímos apenas para buscar uma pizza e o vinho. Desmaiamos. Na alta madrugada Cláudia me acorda assustada. Tem gente querendo invadir o nosso chalé. Dei um pulo e tentei identificar o barulho. Não vinha da porta e sim do teto. Imaginei: uma pousada no mato, só pode ter algum animal alojado no forro, pois o barulho era como se algum animal estivesse tentando furá-lo. Como não vi nenhum buraco ameaçador, voltamos a dormir.
No dia seguinte, no café da manhã, contamos para o garçom Cláudio o ocorrido e que eles precisavam descobrir quem morava no forro do nosso chalé. Ele abriu um sorriso e disse: são os patos. Patos? Sim, à entrada da pousada tem um lago repleto de patos e o que eles mais adoram fazer é voar até o telhado dos chalés. O mistério não só foi resolvido como pudemos ver uma turminha deles passeando durante o dia pelo teto de outros chalés. Ufa!
Amanhã o blog conta o final da nossa viagem.
ADOREI DIRCEU!!!!
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