Cheguei à Brigadeiro Luiz Antonio, 1266, às 16h10 desta quarta-feira, 22 de dezembro. Um servidor solícito me forneceu a senha 116. O que fui fazer lá naquele posto do INSS? Buscar minhas Carteiras de Trabalho, deixadas lá em agosto, quando dei entrada na papelada para saber se eu poderia solicitar a minha aposentadoria.
Afinal, a minha primeira carteira carcomida, tirada em Guaratinguetá, data de 1972 e o meu primeiro carimbo como trabalhador com carteira assinada, de 1973. Contas feitas, eu tenho 37 anos de trabalho... alguns forçados. Imaginei então: já posso pedir a minha APOSENTADORIA, com caixa alta.
Afinal, a minha primeira carteira carcomida, tirada em Guaratinguetá, data de 1972 e o meu primeiro carimbo como trabalhador com carteira assinada, de 1973. Contas feitas, eu tenho 37 anos de trabalho... alguns forçados. Imaginei então: já posso pedir a minha APOSENTADORIA, com caixa alta.
Ah ah, ledo engano. O INSS destruiu o meu sonho pelo correio um mês antes: “Dirceu, você ainda não pode se aposentar. Tem que trabalhar mais, mais, mais... até os 65 anos.” Isso dito por uma voz soturna e gutural de algum daqueles servidores do posto da Brigadeiro... imaginei eu enquanto esperava naquela poltrona azul durante 40 minutos para recuperar as minhas preciosas Carteiras de Trabalho.
Quando estive lá em agosto, deram-me um documento com as iniciais DR – não de Dirceu Rodrigues e, sim, um Documento Retido. Então, a senha 116 era a “senha” para que eu pudesse resgatar as minhas preciosas Carteiras de Trabalho, testemunhas destes 37 anos de sangue, suor e muitas lágrimas.
Um vídeo acima dos guichês de atendimento me informava que havia apenas dois servidores que, naquele momento, atendiam as senhas 114 e 115. Isso significava, cria eu, que seria o próximo a ser chamado. Seria? Bem, uma senhora idosa chegou e ganhou a senha 117. Passou na minha frente, é claro, e não esbocei nenhuma reação, afinal, sou um gentleman e sei respeitar a lei dos mais velhos, em todas as situações. Para me distrair, fiquei observando o duelo entre os minutos e os segundos do meu relógio, ao mesmo tempo em que fazia risquinhos na parede da minha imaginação, como um prisioneiro, que conta os dias para a reta final de sua liberdade.
Concomitantemente, fiquei observando a rotina daquele fim de tarde da repartição, que encerraria o expediente às 17 horas. O moço das senhas só tinha uma função: emitir senhas. Durante 40 minutos em que estive lá pude observar que ele não fazia nada além disso. Numa outra mesa, uma outra servidora não conseguia acessar seu computador e o servidor número dois – um dos que atendia às senhas – teve que deixar seu cidadão em atendimento por pelo menos duas vezes para reiniciar o micro da colega.
Uma terceira servidora chegou ao guichê de atendimento. Para me atender, imaginei. Mas, não, ficou de trelelé com a do micro travado por 10 minutos, computei nos risquinhos da minha imaginação. Falaram do Natal, do Ano Novo, dos presentes... mais um pouco e estariam no carnaval. Foi então que o servidor número dois me chamou, após 40 minutos. Entreguei para ele o meu DR e em dois minutos ele pegou no armário um envelope com as minhas Carteiras de Trabalho e em quatro minutos eu estava liberado.
Guardei as minhas preciosas, respirei fundo e fui-me embora lembrando do cartaz estampado com destaque na parede da repartição: “Desacatar funcionário público é crime previsto em Lei.” Era para intimidar? E o funcionário público quando desacata o cidadão? Tem algum crime previsto em lei para isso?
Saí do posto da Brigadeiro com uma certeza e uma sensação esquisita: sou um cidadão que contribuiu durante 37 anos para o INSS e vou ter que trabalhar ainda muito e muito e contribuir mais ainda para continuar a manter um serviço deste nível que a gente tem que engolir sem poder reclamar, pois senão a Lei pune.
Saí do posto da Brigadeiro com uma certeza e uma sensação esquisita: sou um cidadão que contribuiu durante 37 anos para o INSS e vou ter que trabalhar ainda muito e muito e contribuir mais ainda para continuar a manter um serviço deste nível que a gente tem que engolir sem poder reclamar, pois senão a Lei pune.
Ah, a pergunta que não quer calar: por que o servidor que distribuía as senhas não entregou as minhas carteiras? Ele levaria – como disse acima – apenas 2 minutos para encontrá-la, um ínfimo do tempo em que ele ficou ocioso nos quarenta minutos que lá permaneci. Aí o nosso papo seria outro. Eu sairia feliz e escreveria uma crônica elogiando os excelentes serviços prestados pelo INSS.
Pedir minha carteira no rio de janeiro tem algum lugar que posso encontra-la, sei lá no ministerio de trabalho por favor me oriente o mais rápido possível.
ResponderExcluirAdemir Costa Amorim
Caro Ademir,
ResponderExcluirComo eu nunca perdi a minha, também imagino que você deva procurar um posto do Ministério do Trabalho. Inclusive para ficar sabendo como recuperar os dados da antiga.
Abraços
Dirceu
Ademir, fiquei imaginando enquanto lia sua crônica: Qual será o índice de infartos causados pela burocracia deste país?
ResponderExcluirHaja paciência, meu amigo.
Ainda assim, conseguiu seu um gentleman naquele dia. Parabéns.