segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Era uma vez Leone e Morricone na América

Jennifer Connelly, em sua primeira aparição no cinema.
 Li, não me lembro onde, que antes de serem iniciadas as filmagens de Era uma vez na América (Once Upon a Time in America, 1984) Robert de Niro procurou o diretor Sergio Leone para mostrar a composição que fizera de seu personagem David Aaronson, o Noodles. Leone teria dito ao ator que ele não precisaria compor nada, bastava ouvir a trilha de Ennio Morricone.

Era uma vez na América é um dos meus filmes prediletos. Lembro que quando terminou a sessão no confortável Cine Bristol, lá no Center 3 antes do incêndio, eu não havia me dado conta que ficara olhos grudados na telona durante quatro horas e nem sentira o tempo passar.

Para contar a história de dois amigos judeus que crescem juntos, cometendo pequenos crimes nas ruas de Nova Iorque, e enriquecem durante a lei seca, Leone chamou Ennio Morricone, seu parceiro de muitos outros sucessos para assinar a trilha. Ela é espetacular. O Tema de Deborah emociona e o tema dos meninos, em que o compositor utilizou uma flauta de pan, é fantástico, até quando o recurso utilizado no filme foi somente com o assovio dos personagens quando garotos.

Não me canso de ouvir o DVD Morricone por Morricone, lançado em 2007, com o próprio Morricone regendo a Orquestra Filarmônica de Munique. Além dos temas de Era uma vez na América, estão no DVD, entre outros, os temas de Os Intocáveis, Cinema Paradiso, A Missão, Quando Explode a Vingança e mais clássico de todos: Três Homens em Conflito.

Voltando a Era uma vez na América, este foi o canto derradeiro de Sergio Leone. O diretor morreu em 1989 deixando uma obra irretocável e passando para a história como o pai do western spaghetti. Depois de Era uma vez na América acho que nunca mais houve um flashback, como o do início do filme, como aquele. Lembremos:

O filme começa com alguns assassinos tentando encontrar Noodles. Onde está Noodles? Num teatro chinês fumando ópio. Ele tem nas mãos um jornal onde se pode ler a notícia da morte de três pessoas. Noodles tenta descansar, mas o som de uma campainha de telefone, apenas em sua mente, o desperta. Noodles volta a fumar ópio e quando olha para a lamparina do teatro chinês, mergulha num flashback até um local onde um caminhão incendiado concentra as atenções de policiais, bombeiros e curiosos.

Lá, três corpos estão estendidos no chão, um deles calcinado. São os três homens estampados na notícia de jornal. Toda esta cena é pontuada pelo insuportável barulho da campainha do telefone. Noodles assiste à cena misturado à multidão. Através do seu olhar, Leone nos leva num flashback dentro do flashback. A câmera vai para uma festa onde os mortos estão vivos numa festa celebrando a proibição da venda de bebidas alcoólicas. O telefone continua tocando.

Noodles também está nesta festa e beija o pescoço de uma mulher. Em seguida, vai até o escritório e direto para o telefone – não o que está tocando insistentemente. Noodles levanta o fone e faz uma chamada para um sargento da polícia de Nova Iorque. Este, sim, é o toque de campainha que soa desde o início do flashback. Quando o policial atende, o toque da campainha para e Noodles desperta no teatro chinês, terminando os dois flashbacks em simultâneo.

Para quem não viu Era uma vez na América, desculpas por eu ter revelado o início do filme. Mas lembrem-se, são quatro horas de filme e muita coisa irá acontecer até o surpreendente final. Todo ele, é claro, ponteado pela trilha sonora inesquecível de Morricone.

Faltou falar do timaço de atores que trabalha no filme. Além de Robert de Niro brilham, entre outros, James Woods, Elizabeth McGovern, Tuesday Weld, Treat Williams, Joe Pesci, Danny Aiello, William Forsythe, James Russo e Jennifer Connelly, em sua primeira aparição no cinema. Ela faz a jovem Deborah. A cena em que Noodles a espia dançando por um buraco na parede é uma das mais belas do cinema.

Os amigos judeus de Era uma vez na América eram muito violentos. Tanto, que se eles se juntassem aos Bastardos Inglórios de Tarantino, aí sim, os nazistas estariam perdidos.

Para a Kátia que, como eu, ela é apaixonada por Era uma vez na América. Ela ganha de mim, pois tem o filme em VHS e a trilha do Morricone em vinil.

Um comentário:

  1. Eis o link para a notícia da versão redux:
    http://buchinsky.wordpress.com/2011/03/11/40-minutos-mais-epico/

    ResponderExcluir